ERRATA no livro A Ética e suas Negações

No início do capítulo I. Paternidade e Abstenção, a editora Rocco cometeu um terrível erro: eles simplesmente suprimiram uma linha que prejudica totalmente a compreensão da primeira frase. A frase completa é a seguinte:



Durante toda a história da Filosofia, a Ética tem sido Ética do ser, o imperativo moral básico foi sempre ‘Deve-se viver’, e tudo o resto, uma justificativa desse imperativo.



terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

O único filme artístico de um diretor comercial

Amigos,

Em minha incansável tarefa de desenterrar mortos, chamo a atenção de vocês para um único filme do diretor inglês John Guillermin (1925-2015).

Este diretor não tem precisamente um curriculum para atrair o respeito do público culto. Em início de carreira, ele filmou uma boa quantidade de filmes B de baixo orçamento, até fazer filmes caríssimos em Hollywood, sempre de puro entretenimento. Sua filmografia inclui filmes policiais (“Town on trial”, 1957, “The Whole truth”, 1958, “O dia que roubaram o banco de Inglaterra”, 1960), filmes de Tarzan (“A grande aventura de Tarzan” (1959 (com o jovem Sean Connery em papel de vilão), “Tarzan vai para a Índia” (1962)), comédias (“Song of Paris”, 1952, “A valsa dos toureadores”, 1962), dramas de suspense e aventuras (“Never let go”, 1960, “Canhões de Batasi”, 1964, com a jovem Mia Farrow), filmes-catástrofe (“Inferno na torre”, 1974, “King-Kong”, 1976), e a versão cinematográfica de “Morte no Nilo” de Agatha Christie (com elenco que inclui Peter Ustinov, David Niven, Angela Lansbury, Bette Davis, e outros monstros sagrados).

O caso Guillermin é muito estranho porque quase todos os atores e técnicos que trabalharam com ele são unânimes em dizer que ele era insuportável pelo seu mal humor devido a seu perfeccionismo doentio; refilmava até atingir o que buscava, brigava com todo mundo e estourava orçamentos. Tinha o perfeccionismo de um gênio, mas só produzia filmes comerciais. Com uma única exceção: RAPTURE, um filme de 1965 que, segundo um de seus biógrafos, era o filme preferido de Guillermin, o único que o tinha satisfeito como artista. Um belíssimo filme em preto e branco que deveria ter aparecido em nossa lista de semanas atrás, se eu o tivesse conhecido em tempo.

RAPTURE é, sem dúvida, o filme mais europeu de Guillermin, que tinha raízes francesas em sua linhagem. Já começando pelo roteiro, que tem participação do Ennio Flaiano, coautor de 10 roteiros para Fellini, incluindo “La dolce vita” e “Oito e meio”. Com elenco internacional, incluindo a jovem francesa Patrizia Gozzi (que tinha ficado famosa no filme “Os domingos da Ville d’Avrai” (em português, “Sempre aos domingos”), um draminha que roubou o Oscar de melhor filme estrangeiro da obra-prima “O pagador de promessas”, de Anselmo Duarte em 1962), a sueca Gunnel Lindblom, atriz favorita de Bergman (“A fonte da donzela”, “Luz de inverno”, “O silêncio”), e os excelentes atores norte-americanos Melvyn Douglas e Dean Stockwell, todos em interpretações contidas, intensas e sutis (embora Gozzi não se dera nada bem com Guillermin e Stockwell não gostara do resultado final). O filme abunda em cenários abertos e silêncios liberadores ou opressivos, segundo o momento.

O assunto? Na verdade, não tem a menor importância. Uma menina em crise de adolescência, com antecedentes de loucura na família, que mora com seu pai autoritário e uma empregada sensual, vive de fantasias e monta um homem de palha ao qual devota todo seu amor, até que um bonito jovem, fugindo da polícia em noite de intensa chuva, veste as roupas do boneco e passa a ocupar o lugar das fantasias da jovem. O filme mostra a agonia de um crescimento travado com final dramático previsível. A história poderia ser outra. O notável do filme é ver como as câmeras de Guillermin acariciam rostos, acompanham o rugir do mar, o voo das gaivotas, dando expressão às tensões familiares insuportáveis, às frustrações a ponto de arrebentar. Narrativamente, o filme nem sequer está bem resolvido (ele está mal montado no final, as coisas se precipitam muito rápido e de maneiras destoantes), mas quem se importa com isso?

Não é obra-prima, e talvez nem seja o melhor filme de John Guillermin. Se julgado como diretor comercial e de entretenimento, “Os canhões de Batasi” é muito mais sólido. Mas RAPTURE é um filme curioso precisamente por ser uma obra de ruptura, admirável em seus próprios termos. Vale a pena pesquisar. Vocês acham este filme completo no Youtube, sem legendas. Mas o filme é tão fascinante em suas imagens que isso tampouco tem a menor importância.

Julio Cabrera

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