I
Em 1989, publiquei em São Paulo um pequeno livro chamado “Projeto de ética negativa”1. Havia uma ambigüidade proposital neste título: por um lado, se davam nele subsídios para negar a própria possibilidade do ponto de vista moral sobre o mundo, a menos de ter de aceitar a moralidade do suicídio ou, o que era pior ainda, o caráter moralmente problemático da procriação, o dar a vida a alguém. (A isto, Jorge Alam, um estudante de Brasília, chamou, precisamente, a “reductio ad absurdum” da moralidade). Negar o ponto de vista moral sobre o mundo não era o mesmo que simplesmente abandoná-lo, como eu penso que Nietzsche tinha feito; meu pensamento negativo estava nas antípodas do afirmativismo vitalista nietzscheano; na verdade, estava situado no meio do niilismo moral criticado por Nietzsche, levado às suas últimas conseqüências; meu convite para sair para fora da moralidade era, pois, marcadamente anti-nietzscheano. A saída para fora da moralidade era feita, na minha perspectiva, radicalizando o próprio ponto de vista moral, em lugar de destruí-lo pelo lado de fora. Isto era ética negativa no sentido de uma negação (interna) da moral.
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