Neste trabalho, vou sustentar que perguntar pelo sentido da vida (humana) não é o mesmo que perguntar pelo seu valor; que freqüentemente estas duas questões se confundem; que ambas as questões têm respostas claras; que, para ser respondidas, elas devem colocar-se numa dupla dimensão, habitualmente ignorada pelos filósofos de tendência analítica: o sentido ou valor da vida mesma, e o sentido ou valor do que acontece dentro da vida. Sustentarei que não reconhecer essa dupla dimensão prejudica os tratamentos analíticos usuais da questão do “sentido da vida”.
No presente texto, faço uma discussão das idéias de Júlio Cabrera, apresentadas no artigo “Sentido e valor da vida: uma diferença crucial”. Procuro mostrar, contra Cabrera, que a questão sobre o sentido da vida está imbricada com a questão do valor da vida. Argumento que, a favor de Cabrera, podemos identificar um valor negativo na vida, mas, contra ele, podemos identificar também um valor positivo. Seu pessimismo advém de uma visão parcial da realidade, uma vez que ele rejeita, sem uma justificativa adequada, a possibilidade de uma experiência mística redentora. Na discussão do vitalismo de tipo nietzschiano com que Cabrera termina seu texto, argumento que a tese segundo a qual a vida se auto-sustenta em seu desvalor envolve um contrabando filosófico nessa constatação vital básica. Tento mostrar também que filosofia e vida não se opõem radicalmente, como pensa Cabrera, e que nisso segue o espírito da oposição estabelecida por Nietzsche entre verdade e vida. A complexidade do real só pode ser sugerida pelo discurso racional, através do apelo à complementaridade descritiva, que envolve a combinação de uma pluralidade de descrições do mesmo domínio do real. Isso revela as limitações do discurso racional, que só pode ser superado pela intuição silenciosa. Esta última não parece ter sido devidamente considerada por Cabrera.
Esse artigo é uma réplica ao artigo (acima) de PAULO MARGUTTI, “Sentido da vida e valor da vida: uma diferença crucial? (Discussão das idéias de Júlio Cabrera)”.
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Textos publicados originalmente na Revista Philósophos (http://www.revistas.ufg.br/index.php/philosophos/).
A Revista Philósophos tem como objetivo publicar material bibliográfico inédito na área de filosofia e promover o debate filosófico. A atual política editorial da Philósophos é alternar números reunindo artigos diversos vindos do fluxo normal e números especializados, contendo dossiês temáticos. A publicação é semestral, sob a responsabilidade do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Goiás.
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