ERRATA no livro A Ética e suas Negações

No início do capítulo I. Paternidade e Abstenção, a editora Rocco cometeu um terrível erro: eles simplesmente suprimiram uma linha que prejudica totalmente a compreensão da primeira frase. A frase completa é a seguinte:



Durante toda a história da Filosofia, a Ética tem sido Ética do ser, o imperativo moral básico foi sempre ‘Deve-se viver’, e tudo o resto, uma justificativa desse imperativo.



sexta-feira, 28 de outubro de 2022

FILMES EM PRETO E BRANCO (PELÍCULAS EN BLANCO Y NEGRO)

Tal como o concebo, o cinema não está preocupado em reproduzir o real, mas em recriá-lo ou mesmo em cria-lo. Se a realidade é colorida ou não é irrelevante para o cinema. A cor de um filme é, hoje em dia, uma criação artística, uma composição, e não pretende ser uma cópia do real (se alguma vez pretendeu sê-lo).

Já alguém me falou que não gosta de filmes em preto e branco porque não sabe de que cor são os carros que passam pela tela. Mas se a cor dos carros não é informada, isso significa que, para o diretor, esse dado é irrelevante para esse filme específico, pois o foco está em outras coisas.

Na história do cinema, acontece com a cor algo semelhante ao que aconteceu com o som; a composição cinematográfica se beneficia dos contrastes (possivelmente como tudo na vida). A cor e o som desempenham um papel artístico quando podem ser contrastados com o preto e branco e com o silêncio.

 Se tudo for mudo (como no primeiro cinema) ou se tudo for preto e branco (como até a primeira metade dos anos 30), esse contraste não se produz. Mas quando chega a cor e o sonoro, também se perde o contraste, porque agora os filmes passam a ser (sobretudo a partir da década de 50) totalmente coloridos e falados até pelos cotovelos.

Muitas pessoas têm a ideia de que a cor é uma conquista recente do cinema, mas já existiam técnicas de coloração nos primórdios do cinema, entre 1906 e 1922. Só que, como acontece na história da filosofia e das ciências, nem sempre as técnicas disponíveis interessam aos valores estéticos, comerciais e políticos vigentes na sociedade daquele momento. 

É só a partir dos anos 60 - uma década maravilhosa para o cinema - que os diretores possuem todos os elementos para trabalhar com os contrastes. E daí surgem os filmes mais interessantes, feitos por diretores que voltam ao preto e branco para dar-lhe um tratamento composicional que não podiam ter no cinema anterior. Por isso, na lista que apresento agora, apenas inclui filmes a partir do ano 1960 em diante.


FILMES NOTÁVEIS EM PRETO E BRANCO (feitos entre 1960 e 1990)

Psicose (Alfred Hitchcock, EU, 1960)

La dolce vita (Federico Fellini, Itália, 1960)

Acossado (Jean-Luc Godard, França, 1960) 

Rocco e seus irmãos (Luchino Visconti, Itália, 1960)

A aventura (Michelangelo Antonioni, Itália, 1960)

O ano passado em Marienbad (Alain Resnais, França, 1961)

La mano en la trampa (Leopoldo Torre Nilsson, Argentina, 1961)

Viridiana (Luis Buñuel, Espanha, 1961)

A noite (Michelangelo Antonioni, Itália, 1961)

A faca na água (Roman Polanski, Polônia, 1962) 

A infância de Ivan (Andrei Tarkovski, Russia, 1962)

O pagador de promessas (Anselmo Duarte, Brasil, 1962)

A solidão de uma corrida sem fim (Tony Richardson, Inglaterra, 1962) 

Oito e meio (Federico Fellini, Itália, 1963)

O eclipse (Michelangelo Antonioni, Itália, 1962)

O silêncio (Ingmar Bergman, Suécia, 1963)

O criado (Joseph Losey, Inglaterra, 1963)

Diario de uma mucama (Luis Buñuel, França, 1964)

Dr. Strangelove (Stanley Kubrik, EU, 1964)

Repulsa ao sexo (Roman Polanski, Inglaterra, 1965) 

Persona (Ingmar Bergman, Suécia, 1966)

Manhattan (Woody Allen, EU, 1979)

Touro indomável (Martin Scorsese, EU, 1980)

Estranhos no paraíso (Jim Jarmush, DEU, 1982)

Down by law (Jim Jarmush, EU, 1986)

Asas do desejo (Wim Wenders, Alemanha, 1987) 

 

FILMES EM PRETO E BRANCO DOS ÚLTIMOS 30 ANOS (de 1992 a 2022)

A lista de Schindler (Steven Spielberg, EU, 1993)

Ed Wood (Tim Burton, EU, 1994)

O ódio (Mathieu Kassovitz, França, 1995)  

Terra estrangeira (Walter Salles, Brasil, 1995)

Dead man (Jim Jarmush, EU, 1995)

Following (Christopher Nolan, Inglaterra, 1998)

25 watts (Juan Pablol Rebella e Pablo Stoll, Uruguai, 2001)

O homem que não estava lá (Joen e Ethan Coen, EU, 2001)

Boa noite e boa sorte (George Cloney, EU, 2005)

Sin city (Frank Miller, Robert Rodriguez, EU, 2005)

A fita branca (Michael Hanneke, Alemanha, 2009)

Tetro (Francis Ford Coppola, EU, 2009).

O artista (Michel Hazanavicius, França, 2011)

Heleno (José Henrique Fonseca, Brasil, 2012)

Oh boy (Um café em Berlim) (Jan Ole Gerster, Alemanha, 2012)

Nebraska (Alexander Payne, EU, 2013)

Ida (Pawel Pawlikowski, Polônia, 2014)

El abrazo de la serpiente (Ciro Guerra, Colômbia, 2015)

1945 (Ferenc Török, Hungría, 2017)

O capitão (Robert Schwentke, Alemanha, 2017)

Guerra fria (Pawel Pawlikowski, Polônia, 2018)

Roma (Alfonso Cuarón, México, 2018)

O farol (Robert Eggers, EU, 2019)

The forty-year old version (Radha Blank, EU, 2020)

A tragédia de Macbeth (Joel Coen, EU, 2021)

Belfast (Kenneth Branagh, Inglaterra, 2021)


 Eu inclui filmes argentinos e brasileiros porque conheço mais; membros do grupo podem enviar alguns títulos de filmes de seus países, em preto e branco, que lhes pareçam notáveis de serem conhecidos por nós. Não descobri diretoras que tenham explorado cinema em preto e branco nesses períodos, se alguém conhecer, me corrija. Lamentei não poder mencionar filmes de minhas admiradas Agnes Varda, Sofia Coppola, Liliana Cavani e Lucrecia Martel, que preferiram fazer seus grandes filmes a cores. Duas diretoras que fizeram filmes notáveis em preto e branco são anteriores a 1960; menciono duas: “O triunfo da vontade” (Leni Riefensthal, Alemanha, 1935) e “O mundo odeia-me (O estopista)” (Ida Lupino, EU, 1953).

 Com isto eu queria contribuir para quebrar o preconceito contra o cinema em preto e branco, um corolário, talvez, do preconceito contra o “cinema antigo”, na trilha da citação de Woody Allen da mensagem anterior. Este diretor fez vários filmes em preto e branco (“Zelig”, “Broadway Danny Rose”, “Neblinas e sombras”, “Celebridades”, eu citei apenas o que me parece o mais importante, “Manhattan”), e ele declarou que não lhe interessavam os espectadores que lhe perguntam se seu próximo filme vai ser preto e branco ou colorido.  

 Mas tampouco quero invadir o gosto de cada qual. Pode ser que, após esta argumentação, as pessoas continuem detestando filmes preto e branco, e estão em seu direito. Apenas queria, num mundo tão cheio de sofrimentos e dificuldades como o nosso (e cada vez pior), abrir para muitos um imenso espaço de prazer quando se apreende a entrar na densidade e a beleza do mundo do preto e branco.  

Julio Cabrera


*****


VERSIÓN CASTELLANA

Tal como lo entiendo, el cine no se preocupa de reproducir lo real, sino de recrearlo o incluso de crearlo. Si la realidad está coloreada o no, es irrelevante para el cine. El color de una película es, hoy en día, una creación artística, una composición, y no pretende ser una copia de lo real (si es que alguna vez pretendió serlo).

Alguien ya me dijo que no les gustan las películas en blanco y negro porque no puede saber de qué color son los autos que pasan por la pantalla. Pero si no se informa el color de los autos, significa que, para el director, este dato es irrelevante para esta película específica, ya que el foco está en otras cosas.

 En la historia del cine sucede con el color algo similar a lo que sucedió con el sonido; la composición cinematográfica se beneficia de los contrastes (posiblemente como todo en la vida). El color y el sonido juegan un papel artístico cuando pueden contrastarse con el blanco y negro y el silencio.

 Si todo es silencio (como en el primer cine) o si todo es blanco y negro (como en la primera mitad de los años 30), este contraste no se produce. Pero cuando llega el color y el sonido también se pierde el contraste, porque ahora las películas se vuelven (sobre todo a partir de los años 50) llenas de color y habladas hasta la saciedad.

 Mucha gente tiene la idea de que el color es una conquista reciente del cine, pero las técnicas de coloreado ya existían en los inicios del cine, entre 1906 y 1922. Sin embargo, como en la historia de la filosofía y la ciencia, las técnicas disponibles no siempre son de interés para los valores estéticos, comerciales y políticos imperantes en la sociedad de ese momento. 

No es hasta los años 60 - una década maravillosa para el cine - que los directores tienen todos los elementos para trabajar los contrastes. Y de ahí salen las películas más interesantes, realizadas por directores que vuelven al blanco y negro para darle un tratamiento compositivo que no podían tener en el cine anterior. Por lo tanto, en la lista que presento ahora, solo incluyo películas desde el año 1960 en adelante.

 

PELÍCULAS NOTABLES EN BLANCO Y NEGRO (realizados entre 1960 y 1990)

(Puse algunos títulos castellanos que conozco; creo que todos son comprensibles; disculpen los posibles errores)

 

Psicosis (Alfred Hitchcock, EU, 1960)

La dolce vita (Federico Fellini, Itália, 1960)

Sin aliento (Jean-Luc Godard, França, 1960) 

Rocco y sus hermanos (Luchino Visconti, Itália, 1960)

La aventura (Michelangelo Antonioni, Itália, 1960)

Hace un año en Marienbad (Alain Resnais, França, 1961)

La mano en la trampa (Leopoldo Torre Nilsson, Argentina, 1961)

Viridiana (Luis Buñuel, Espanha, 1961)

La noche  (Michelangelo Antonioni, Itália, 1961)

El cuchillo bajo el agua (Roman Polanski, Polônia, 1962) 

La infancia de Ivan (Andrei Tarkovski, Russia, 1962)

O pagador de promessas (Anselmo Duarte, Brasil, 1962)

La soledad del maratonista (Tony Richardson, Inglaterra, 1962) 

Ocho y medio  (Federico Fellini, Itália, 1963)

El eclipse (Michelangelo Antonioni, Itália, 1962)

El silencio (Ingmar Bergman, Suécia, 1963)

El criado (Joseph Losey, Inglaterra, 1963)

Diario de uma camarera (Luis Buñuel, França, 1964)

Doctor Insólito (Stanley Kubrik, EU, 1964) 

Repulsión (Roman Polanski, Inglaterra, 1965) 

Persona (Ingmar Bergman, Suécia, 1966)

Manhattan (Woody Allen, EU, 1979)

El toro salvaje  (Martin Scorsese, EU, 1980)

Estraños en el paraíso (Jim Jarmush, DEU, 1982)

Down by law (Jim Jarmush, EU, 1986)

El cielo sobre Berlín (Wim Wenders, Alemanha, 1987) 

 

PELÍCULAS EN BLANCO Y NEGRO DE LOS ÚLTIMOS 30 AÑOS (de 1992 a 2022)

 La lista de Schindler (Steven Spielberg, EU, 1993)

Ed Wood (Tim Burton, EU, 1994)

El odio  (Mathieu Kassovitz, França, 1995)  

Terra estrangeira (Walter Salles, Brasil, 1995)

Dead man (Jim Jarmush, EU, 1995)

Following (Christopher Nolan, Inglaterra, 1998)

25 watts (Juan Pablol Rebella e Pablo Stoll, Uruguai, 2001)

El hombre que nunca estuvo (Joen e Ethan Coen, EU, 2001)

Buenas noches y buena suerte  (George Cloney, EU, 2005)

Sin city (Frank Miller, Robert Rodriguez, EU, 2005)

La cinta blanca (Michael Hanneke, Alemanha, 2009)

Tetro (Francis Ford Coppola, EU, 2009).

El artista (Michel Hazanavicius, França, 2011)

Heleno (José Henrique Fonseca, Brasil, 2012)

Oh boy (Um café em Berlim) (Jan Ole Gerster, Alemanha, 2012)

Nebraska (Alexander Payne, EU, 2013)

Ida (Pawel Pawlikowski, Polônia, 2014)

El abrazo de la serpiente (Ciro Guerra, Colômbia, 2015)

1945 (Ferenc Török, Hungría, 2017)

El capitán (Robert Schwentke, Alemanha, 2017)

Guerra fria (Pawel Pawlikowski, Polônia, 2018)

Roma (Alfonso Cuarón, México, 2018)

El faro (Robert Eggers, EU, 2019)

The forty-year old version (Radha Blank, EU, 2020)

La tragedia de Macbeth (Joel Coen, EU, 2021)

Belfast (Kenneth Branagh, Inglaterra, 2021)

 

Incluí películas argentinas y brasileñas porque conozco más sobre ellas, pero los miembros del grupo pueden enviar algunos títulos de películas de sus países, en blanco y negro, que crean que son notables para que las conozcamos. No encontré directoras que exploraran el cine en blanco y negro en estos períodos, si alguien sabe, que me corrija. Lamenté no poder mencionar películas de mis admiradas Agnes Varda, Sofia Coppola, Liliana Cavani y Lucrecia Martel, quienes prefirieron hacer sus grandes películas en color. Dos directoras que realizaron notables películas en blanco y negro son anteriores a la década de 1960; menciono dos: “El triunfo de la voluntad” (Leni Riefensthal, Alemania, 1935) y “El autoestopista (The hitch hiker)” (Ida Lupino, UE, 1953).

 Con esto quería contribuir a romper el prejuicio contra el cine en blanco y negro, corolario, quizás, del prejuicio contra el “cine antiguo”, en el sentido de la cita de Woody Allen del mensaje anterior. Este director hizo varias películas en blanco y negro (“Zelig”, “Broadway Danny Rose”, “Mists and Shadows”, “Celebrities”, yo cité sólo la que me parece más importante, “Manhattan”), y declaró que no le interesaban los espectadores que le preguntan si su próxima película va a ser en blanco y negro o en color.

 Pero tampoco quiero invadir el gusto de nadie. Puede ser que, después de este argumento, las personas sigan odiando las películas en blanco y negro, y están en todo su derecho. Sólo quería, en un mundo tan lleno de sufrimiento y dificultades como el nuestro (y cada vez peor), abrir a muchos un inmenso espacio de placer cuando uno aprende a adentrarse en la densidad y la belleza del mundo en blanco y negro.

Julio Cabrera

0 comentários:

Postar um comentário

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | cheap international calls