Queria comentar também alguns tópicos do livro, respondendo algumas mensagens. Sim, o livro é bifacético: Nietzsche é utilizado como exemplo de como seria ler de maneira descolonizada um pensador europeu. O livro segue passo por passo a estrutura de “Crepúsculo dos ídolos”, inclusive nos títulos, mas com um conteúdo americanista totalmente alheio a Nietzsche. Assim, livro é dois livros, uma exposição transversal da filosofia de Nietzsche e um livro sobre emancipação intelectual, na esteira do “Diário de um filósofo no Brasil”. Mas o livro não fala de emancipação, a própria estrutura do livro pretende ser emancipadora.
Esse exercício de “devoração” de autores europeus (seguindo ideias de Oswald de Andrade, um pensador totalmente ignorado pela academia de filosofia no Brasil) é um ato político importante, pelo menos no Brasil, onde é ainda muito difícil fazer uma dissertação ou uma tese sobre autores latino-americanos. Além do mais, desenvolve uma estratégia para começar a introduzir um Extemporâneo Latino-americano no universo exclusivamente europeu de Nietzsche (ver NA PROCURA DE UMA TEMPORALIDADE LATINO-AMERICANA em DEVORANDO, pág. 104-129). Chamo a atenção em particular ao aforismo 43 dessa seção, onde respondo a crítica de um professor cubano à minha empreitada de devorar de forma emancipadora um autor tão eurocêntrico e antidemocrático como Nietzsche.
Obrigado a todos os leitores do livro, pelas suas mensagens, e em particular ao escritor brasileiro Ezio Bazzo, que leu o livro e escreveu: “Acabo de receber teu novo livro. Impecável: capa, título, temática etc. Já ‘devorei' as primeiras páginas. Tem cheiro de nitroglicerina! Excelente! O diálogo entre o martelo e a foice, é genial. Também o ‘Pavio curto’, em Sorrento. Um parágrafo mais interessante do que o outro. Parabéns por tua capacidade de pensar e produzir”.
Julio Cabrera
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