ERRATA no livro A Ética e suas Negações

No início do capítulo I. Paternidade e Abstenção, a editora Rocco cometeu um terrível erro: eles simplesmente suprimiram uma linha que prejudica totalmente a compreensão da primeira frase. A frase completa é a seguinte:



Durante toda a história da Filosofia, a Ética tem sido Ética do ser, o imperativo moral básico foi sempre ‘Deve-se viver’, e tudo o resto, uma justificativa desse imperativo.



segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

NÃO BASTA SER O MELHOR (O caso Walter Brennan)

NÃO BASTA SER O MELHOR
(O caso Walter Brennan)
Julio Cabrera
 
 
    Você sabe quem é Walter Brennan? Certamente não. Entretanto, ele é o melhor ator norte-americano de todos os tempos. É o equivalente do britânico Daniel Day-Lewis, pelo menos em 2 coisas: (1) Ambos são atores capazes de transformar-se, física e psicologicamente, de maneira portentosa; (2) São os únicos dois atores a ganhar 3 Oscar em suas categorias. Com a diferença de que Walter Brennan ganhou seus três prêmios em apenas 5 anos, em 1937, 1939 e 1941, enquanto Day-Lewis precisou 23 anos para ganhar os seus.

    Claro, todo mundo conhece Daniel Day-Lewis porque é recente; já se sabe que as pessoas não estão interessadas em explorar a rica história do cinema.
    
    Walter Brennan começou a trabalhar no cinema mudo, no qual fez em torno de 25 filmes. Entre 1929 e 1936 apareceu em torno de 100 filmes, em muitos dos quais seu nome não figura nos créditos. O diretor Howard Hawks (1896-1977) – que depois o dirigiria em vários filmes importantes – lhe deu um pequeno papel no então escandaloso filme “Barbary Coast” (1935). Foi como um anúncio: logo em seguida, Brennan ganharia seu primeiro Oscar de ator coadjuvante, por “Come and get it” (1936), codirigido por Hawks e William Wyler. (Em português: “Meu filho é meu rival”). Esta foi também a primeira vez que esse prêmio começou a ser entregue; a categoria de “melhor ator coadjuvante” foi inaugurada por Brennan. Dois anos depois, ele ganhou novamente pelo seu papel de Peter Goodwin em “Kentucky” (David Butler, 1938. “Romance do sul”), e dois anos depois, outro por “The westerner” (William Wyler, 1940. Em português: “A última fronteira”), personificando o mítico “juiz” Roy Bean, junto a Gary Cooper, com quem atuou em vários filmes dessa época.

    Depois de ganhar seu primeiro Oscar, Brennan fez um dos seus poucos papéis protagonistas no filme “Affairs of Cappy Ricks” (Ralph Staub, 1937), uma comédia disparatada; depois disso, Brennan foi dirigido por grandes diretores em filmes expressivos, mas quase sempre de coadjuvante. “Sargento York” (Howard Hawks, 1941), pelo qual recebeu sua quarta indicação ao Oscar, mas não ganhou; “Meet John Doe” (Frank Capra, 1941. “Adorável vagabundo”); em seguida foi dirigido por dois grandes mestres europeus que estavam nesse momento fazendo cinema nos Estados Unidos: Jean Renoir, em “Swamp water” (1941. “O segredo do pântano”), e Fritz Lang em “Hangmen also die” (1943) (“Os carrascos também morrem”); em ambos os filmes ele tem um dos papéis centrais. (Ele tinha feito um pequeno papel em outro filme anterior de Lang, “Fury”, de 1936, com Spencer Tracy).

    Outros filmes notáveis de Walter Brennan: “Stand by for action” (Robert Leonard, 1942), com Charles Laughton (com quem, infelizmente, contracena pouco), “To have or not to have” (Howard Hawks, 1944. “Uma Aventura na Martinica”), “My darling Clementine” (John Ford, 1946. “Paixão dos fortes”), “Red river” (John Ford, 1948. “Rio vermelho”), “Along the great divide” (Raoul Walsh, 1951. “Embrutecidos pela violência”), num papel central contracenando com Kirk Douglas; “Bad day at Black Rock” (John Sturges, 1955. “Conspiração de silêncio”), de novo com Spencer Tracy, e “Rio Bravo” (Howard Hawks, 1959. “Onde começa o inferno”). Já velho, com 75 anos, fez uma comédia de cowboy onde satiriza seus papéis anteriores: “Support your local sheriff” (Burt Kennedy, 1969. “Uma cidade contra o xerife”)

    Mas apesar de seus 3 Oscar, e de ser um ator muito mais talentoso e versátil que todos seus colegas famosos (John Wayne, Dean Martin, Humphrey Bogart, Kirk Douglas, Joel McCrea, Gary Cooper, Henry Fonda), foram estes que viraram estrelas (mesmo sem ganhar nenhum prêmio, como Douglas, Martin e McCrea) enquanto Brennan jamais teve fama alguma, sendo rapidamente esquecido. Ele contracenou apenas com dois grandes atores, Spencer Tracy e Charles Laughton, mas supera ambos em sua capacidade de transformação interpretativa.

    Brennan não tinha um rosto especialmente interessante, nem uma presença marcante; mas era isso precisamente o que lhe permitia transformar-se inteiramente de um filme a outro, fazendo de vagabundo, pistoleiro ou professor com a mesma competência. Ele mudava de idade com facilidade (aproveitando sua dentadura postiça), e mudava também a sua voz e seu modo de caminhar, como fazem os grandes atores, como Alec Guinness (algumas "grandes estrelas", como Henry Fonda, por exemplo, caminham da mesma maneira quando interpretam um presidente e um caminhoneiro). Mas nada disso alcançou para Brennan ser lembrado como um grande ator.

    Tudo isto leva a uma reflexão filosófica: que os jovens artistas não esperem, ingenuamente, serem reconhecidos pelo seu talento. Talento não é suficiente. Vocês podem ser os melhores, mas outros entrarão na sua frente, levados por outros critérios que não o talento: presença, carisma, sensualidade, bilheteria, e imponderáveis sociais do gosto da época. Talento é apenas um elemento entre muitos para ter o reconhecimento maior, e não o decisivo. Já Schopenhauer apontava como mais um motivo para ser pessimista o fato de que, em todos os tempos, a arte vulgar predomina sobre a grande arte. Um mundo onde John Wayne é um ícone imortal e Walter Brennan não é ninguém, não pode ser um mundo bom.

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